quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tour de 3 dias pelo Salar de Uyuni

Fazer ou não o Tour pelo Deserto de Uyuni foi uma duvida que me atormentou acompanhou por toda a viagem.
De todos os relatos negativos que li sobre a Bolívia pelo menos 99,9% deles eram sobre péssimas experiências nesse tour. Por isso eu estava tão cauteloso e apreensivo (cagando de medo pra falar o português bem claro).
Nessa altura da viagem, eu já tinha feito o downhill de Coroico, já tinha ido de La Paz para Cusco, realizei o sonho de conhecer Machu Picchu, passei por Copacabana, lago Titicaca e estava de volta à La Paz.
Fiz todos esses percursos de ônibus (outra coisa que me deixava apreensivo, por conta dos relatos que tinha lido). A impressão que tinha era que viajar de ônibus pela Bolívia seria uma coisa medieval. Mas não foi nada disso, pelo contrario, foi bem confortável. Até aqui tudo estava perfeito.
Isso tudo só me deixava mais dividido, porque eu pensava: até aqui foi tudo perfeito, talvez o grande horror estivesse me esperando em Uyuni. Seria eu tão privilegiado a ponto de dar tudo certo o tempo todo?
Okay pequeno gafanhoto, você já se divertiu o suficiente, talvez seja hora de voltar pro conforto do seu quintal…
Mas eu já estava lá, ainda tinha alguns dias livres, então por que não arriscar né? Como diria o Kelvin: A felicidade não me basta, exijo a euforia!
Bora pra Uyuni, e se for uma merda tudo bem. A experiência até aqui já era válida.
Passei o dia todo zanzando pelas ruas de La Paz, entrando em toda e qualquer agencia de viagem que eu avistasse (e não eram poucas), até que finalmente achei uma que me agradou bastante, era bem arrumadinha e até o folfer deles era mais bonito, mas era também uma das mais caras (os preços variavam de Bs 700,00 a Bs 1.500,00), nessa o tour de 3 dias custava 1.200,00 bolivianos. A agencia era a Wheels, mas o tour seria feito pelaQuechua Connection. Estava acima do meu orçamento, mas era melhor não arriscar uma agencia mais barata e ter dor de cabeça.
Todas as agencias oferecem praticamente as mesmas coisas e o mesmo roteiro, o que me chamou atenção nessa foi que além do “pacote básico” eles ofereciam um por do sol especial, saco de dormir, bolsa térmica, e boa comida, coisa que eu imaginei como sendo algo ruim, apenas comível e talvez não estragado. (sim, tenho vergonha de ter pensado assim, mas dados os relatos que eu li…).
Fui bem chato e enfático com a atendente: Se tivesse problemas voltaria lá e jogaria uma bomba na agencia (e falei isso em tom muito serio).
Enfim, pacote fechado! Ali mesmo já comprei a passagem de ônibus de La Paz para Uyuni, com a ajuda da mocinha da agencia, que muito prestativa ligou na rodoviária e fez uma reserva pra mim. Já era quase 17:00 e o ônibus partiria as 19:00 em ponto. Corri pro hostel, tomei um banho, arrumei as malas e fui pra rodoviária. As 19:15 o ônibus partiu. Era um ônibus leito (bus cama como eles dizem lá), bem confortável, com wi-fi, calefação, cobertor e uma fileira individual. Era um pouquinho mais caro, mas acredite, vale a pena. A empresa era a Trans Turístico Omar.
A viagem foi super tranquila e umas 13 horas depois, por volta de 08:30 eu estava em Uyuni. No terminal um boliviano muito prestativo se ofereceu pra me levar ate o escritório da Quechua (mesmo eu falando que não tinha um centavo), ele realmente fez de boa vontade. Na agencia me informaram que o tour pelo salar começaria as 10:30
Precisava achar uma casa de câmbio, algum lugar pra comer, tomar banho e um lugar pra comprar suprimentos extras para viagem (agua, bolacha, chocolate, barra de cereais etc) o medo de passar fome era enorme rs.
A cidade de Uyuni é um ovo, mas tem ótimos restaurantes, tomei um café da manhã que valeu por um almoço, achei um hostel onde era possível tomar um banho por apenas Bs 10,00. Mas em compensação a taxa de câmbio lá era péssima, era pior que a do Banco Safra do aeroporto de Guarulhos, mas enfim, precisava de grana.
Algo que aprendi muito rápido na Bolívia: Tenha SEMPRE dinheiro em espécie (em moeda local)! Sempre MESMO. A maioria dos lugares não aceita cartões, e sempre (mais uma vez ênfase no sempre) tem uma taxa de alguma coisa em algum lugar, e em TODO lugar você precisa pagar para usar o banheiro.
Voltei pro escritório da Quechua, era hora de conhecer meus “companheiros de viagem”, o grupo era composto por um casal de russos, uma holandesa e um indiano – todos de aparência bem simpática – nosso motorista, que se chamava Manuel e o nosso guia que se chamava Lucho, ambos bem simpáticos também. Pronto, grupo formado. Hora de partir.

Primeiro dia

A primeira parada é no famoso “cemitério de trens”, que fica bem pertinho do centro de Uyuni. Um emaranhado de trens abandonados, de um tempo em que a Bolívia deslumbrava o desenvolvimento.
depois partimos para o tão famoso deserto de sal. A paisagem é incrível, quase não se vê horizonte diante daquele imenso deserto branco de sal.
Ficamos ali um bom tempo tirando as famosas fotos em perspectiva (funny pictures como dizia nosso guia). Sempre achei meio clichê essas fotos e meio bobas, mas me diverti a beça, pareciamos um bando de imbecis tirando essas fotos, mas foi realmente bemmmm divertido kkkkk

Depois paramos pra almoçar onde tem a estatua do Rally Dakar Bolívia e seguimos para a Isla Incahuasi
É literalmente uma ilha no meio do deserto. Você precisa pagar uma taxa de visitação (Bs 30,00) e do ponto mais alto da ilha tem uma vista incrível do salar, é realmente muito bonito. Ficamos ali um bom tempo também.
Depois seguimos para uma “caverna”, onde fizemos uma parada bem rápida, pra tirar umas fotinhos legais.
Dali seguiríamos para o tão esperado “por do sol” e nesse momento eu esqueci totalmente das taxas de iof do meu cartão de credito e percebi como valeu a pena estourar o orçamento. Palavras são insuficientes para descrever o momento e infelizmente minha câmera em sua limitada em capacitar emoções, não conseguiu reproduzir nem metade do que aconteceu ali naquele momento.

Primeira noite

Depois desse por do sol incrível seguimos para manica, onde iriamos passar a primeira noite.
Passamos pelo famoso “hotel de sal” onde a maioria dos grupos passa a noite (e mais uma vez: obrigado VISA e IOF pela minha escolha). O hotel de sal é legalzinho e tal, mas a infraestrutura não é das melhores e lugar parece ser pouco confortável. Nosso alojamento tinha a desvantagem de ser um pouco mais longe, mas ao chegar, percebi como valeu a pena: Tínhamos quartos individuais com banheiro privado (um verdadeiro luxo). As instalações eram simples, mas o lugar era bem limpo e ótimo aspecto.
Tomamos um merecido banho quente e fomos pra uma sala onde o jantar seria servido. E foi aqui que senti vergonha por ter pensado mal da ênfase da moça da agencia sobre “boa comida”. O jantar foi delicioso, eles serviram uma sopa de quninua com legumes, bem deliciosa, depois tinha carne de alpaca e frango assado e algumas coisas para os vegetarianos. E por fim sobremesa.
O clima do jantar foi bem familiar, o grupo já estava me entrosado, foi realmente bem bacana. Depois o nosso guia Lutho nos levou para o quintal, com um laser para nos mostrar as constelações. Acho que nunca tinha visto um céu tão estrelado em toda minha vida. Já era tarde e decidimos ir dormir, porque acordaríamos bem cedo no dia seguinte, mas não fosse pelo frio, eu teria passado a noite ali mesmo.

Segundo dia

Bolívia – I Liked

Minha vontade de conhecer a Bolívia começou quando eu estava programando uma viagem pra Chapada dos Guimarães/MT (“O ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico”, como já dizia Zé Ramalho).
Comprei minha passagem pra Cuiabá na intenção de conhecer a Chapada dos Guimarães (que obviamente conheci) e quando comecei pesquisar sobre o que fazer por lá, me deparei com um post de uma garota que foi pra Bolívia de ônibus via Cuiabá/MT. Pesquisando mais um pouquinho achei um post de um cara que saiu de Cuiabá e foi parar em Machu Picchu, passando pela Bolívia,  via “trem da morte”… Eram relatos bem interessantes. E foram esses dois relatos que me incentivaram a fazer essa viagem e também me motivaram a escrever esse post.
Conhecer Machu Picchu já era um sonho de muitos anos, e estava mais do que na hora de realiza-lo, então pensei: “é agora ou nunca”, ou seja, tinha que ser agora. E de quebra ainda conheceria a Bolívia, que até então nunca tinha me despertado o menor interesse . (e acabou sendo a maior surpresa da viagem).
Eu tinha menos de três semanas para programar tudo, parecia loucura, mas eu sou insanamente extremamente otimista. Então mergulhei por dois dias nesse mar de águas escuras que é internet em busca de informações e, quase me afoguei, literalmente.
Era um mix de relatos positivos com grandes tragédias gregas. Tudo era extremo. Pessoas com roteiros tão bem detalhados que mais pareciam uma bula de algum remédio tarja preta ou um manual de instruções de algum aparelho ultra moderno com dezenas de funções. Ou então eram verdadeiros dramas mexicanos, com direito a mala roubada, assédio, infecção alimentar etc; só pra citar os mais leves. Verdadeiras epopeias do terror, relatos que deixariam o Stephen King com inveja. Aquilo tudo estava me enlouquecendo.
Desisti de ler, de pesquisar, de buscar mais informações, de tentar me programar… Enfim… Num ímpeto de irracionalidade comprei uma passagem de ida e volta para Santa Cruz de La Sierra na Bolívia, que era a mais econômica considerando a proximidade da viagem. Em seguida comprei o Ticket para Machu Picchu (o acesso à cidade inca é limitado e os ingressos realmente precisam ser comprados com antecedência). O resto seria decidido tudo na hora, quando eu chegasse lá.
No dia 23/09/2015 lá estava eu, no aeroporto Internacional de Guarulhos, embarcando para Santa Cruz de La Sierra, sem roteiro, sem planejamento, apenas um mochilão nas costas, alguma grana, muita disposição, coragem e determinação.
E 18 dias depois eu estava de volta à São Paulo, cheio de historias pra contar, extremamente feliz e realizado. Sem dinheiro no bolso, pobre financeiramente, mas rico em experiências, emoções e sensações. Foi uma viagem realmente incrível, que superou toda e qualquer expectativa, e que pretendo contar em detalhes futuramente.
Eu sempre falava que uma viagem só poderia ser bem sucedida se fosse bem planejada. Pois bem, nada como pagar a própria língua né? E nesse caso, valeu a pena cuspir pra cima, porque nunca foi tão bom tomar uma catarrada na cara. A viagem foi um sucesso total, cheia de boas surpresas inesperadas.
Talvez eu seja privilegiado, porque tudo deu muito certo e as coisas foram fluindo tão bem que às vezes até eu mesmo desacredito que não foi planejado previamente.
Eu li muitos relatos horríveis, que me deixaram bem apreensivo, então eu fui preparado para as piores coisas.
Está pensando em conhecer a Bolívia? Então VÁ! Coloque uma mochila nas costas e vá sem medo, mesmo que a grana seja curta, como a minha era, mesmo que esteja em duvida sobre o que visitar, onde ir, onde ficar. De certa forma você acaba tendo uma liberdade maior e acaba experimentando coisas que não seriam possíveis se tivesse um roteiro a seguir.
É bom ter pelo menos uma noção básica do que quer fazer, mas liberte-se de roteiros fechados, especialmente porque a Bolívia é cheia de imprevistos. Eu tive uma experiência incrível, uma viagem de 18 dias de puro sucesso e sem problemas, mas não é bem assim com todo mundo. Vá preparado, porque imprevistos e perrengues podem acontecer, assim como em qualquer viagem, seja na America do Sul na Ásia ou na Europa.
Só não deixe de conhecer a Bolívia por medo do que pode dar errado. Se você for pensar em tudo que pode dar errado numa viagem, você não vai viajar nunca e isso é péssimo, porque não existe nada melhor que uma boa viagem para renovar as energias e purificar a alma. E a Bolívia é sem sombra de duvidas um lugar especial.
Não ter um roteiro foi uma coisa ótima, porque tive a oportunidade de conhecer lugares e pessoas fora do circuito turístico, o que te dá uma perspectiva melhor do lugar. Os bolivianos são incríveis, atenciosos, prestativos.
Se você tiver a chance de conhecer melhor o povo boliviano, sua cultura e sua historia, garanto que você vai voltar pro Brasil com o espirito mais elevado. Foi uma viagem que me fez repensar muitas coisas.
E você? Está esperando o que? Bora pra Bolívia…

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Descida de bike na Estrada da Morte - Downhill de Coroico (La Paz - Bolívia)

Quando eu decidi ir para Bolívia, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: Vou fazer o Downhill de Coroico (Descida de bike da Estrada da Morte).

O nome oficial da estrada é Camino a Los Yungas, mas é mundialmente conhecida como "Estrada da Morte", e ela faz jus ao apelido: Até algum tempo atrás, de 200 a 300 pessoas morriam todos os anos em acidentes com carros e ônibus na estrada, que tem apenas 64 km de extensão. Depois que foi construída uma via alternativa para os veículos, em 2007, esse número diminuiu, porém ainda acontecem acidentes fatais até hoje.

Curiosamente, após ser considerada na década de 1990 a “estrada mais perigosa do mundo” pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, a via se transformou em atração turística. Todo ano, milhares de pessoas percorrem o caminho de bicicleta. 

E lá fui eu... percorrer os seus perigosos 64 Km, numa descida de aproximadamente 3.500m

Bem Vindo a Estrada da Morte... 

O passeio começa em 4.700 metros de altitude em La Cumbre, que fica mais ou menos a uma hora de carro de La Paz, e desce 3.500 m, ao longo de 64 km.
Só o caminho que a van faz de La Paz até o topo da montanha já vale o passeio, a paisagem é simplesmente incrível.

A van me pegou no hostel as 08:00 em ponto, e seguimos por quase uma hora e meia até o topo da montanha. Lá o guia nos entregou as bikes, os equipamentos, passou algumas instruções de segurança e começamos nossa descida.

Essa primeira parte da descida é asfaltada, mas por incrível que pareça foi a pior parte pra mim, porque estava um frio desgramado e caia uma chuva fina e muito gelada.

Preparados para descida, num frio polar, mas estávamos bem animados
Muito frio nessa parte. Meus dedos estavam congelados.
Uma paradinha para apreciar a paisagem
Finalmente a chuva gelada deu uma trégua 
E lá está ela, a imponente Estrada da Morte, serpenteando a montanha, disfarçada pela neblina.
Depois de mais ou menos uma hora no asfalto, fizemos uma parada para o café da manhã. Muito simples, mas gostoso. Logo iriamos iniciar a descida pela estrada de terra.

Um fato curioso é que você precisa se manter à esquerda na estrada, ou seja, do lado de precipícios que chegam medir mais de 600 m de altura, isso numa estrada de terra estreita, com média de 3 metros de largura.

Conserve su izquierda, ou seja, fique do lado do precipício amiguinho
Não é brincadeira não. Existem registros da morte de aproximadamente 20 ciclistas na estrada da morte (sem contar os acidentes locais, de carros, ônibus, caminhões etc). 
Mas se você manter o foco, for concentrado e não querer bancar o Indiana Jones da bicicleta, a descida é bem tranquila.

Ultimo momento de reflexão...
E que comece a aventura
Essa é a parte mais perigosa, porém é também a mais divertida. É preciso muito equilíbrio, pedalar entre pedregulhos não é fácil. É preciso manter o foco na estrada e esquecer que existem abismos alguns centímetros ao seu lado. 
Se você for muito rápido, pode cair, se for com muito medo, pode cair. E se cair... bem... melhor não cair né!

As paisagens são realmente incríveis:




















 


Depois de algumas horas de descida, a paisagem e clima mudam completamente. O Frio e as montanhas ficam para trás, dando lugar a floresta e a um clima mais temperado, com direito a cachoeiras pelo meio do caminho.

Não é raro cruzar uma van, um caminhão, ou até mesmo uma carreta pelo caminho. Outra coisa bem comum são as cruzes pelo caminho, indicando lugares onde pessoas morreram.








Algumas horas depois, estava quase chegando ao fim nossa jornada pela estrada da morte. O clima já está bem quente (chega fazer um pouco de calor).

Nosso guia, filmando e bancando o engraçadinho rs


P.S Eu não sou lutador de Jiu-Jitsu

No final, a sensação é muito boa, um sentimento de realização, missão cumprida.


E aqui termina nossa jornada
O passeio termina num restaurante, com direito a piscina e uma relaxante ducha.

Informações:
Em La Paz você vai encontrar diversas agencias de turismo que fazem esse passeio, com os mais diversos preços.
Eu não tinha tempo para procurar, pois cheguei em La Paz a noite e só tinha o dia seguinte para fazer o Downhill, por isso eu fechei no próprio hostel. Eu estava no Pirwa hostel. Mas se tiver tempo, procure e pechinche o preço, mas não abra mão de sua segurança, escolha uma agencia conceituada com equipamentos de qualidade e especialmente que tenha bicicletas com suspensão dianteira e bons freios.

E um conselho: Se for pra Bolívia, não deixe de fazer o Downhill!!! Foi sem sombra de duvidas o passeio mais legal que fiz em La Paz.